Apesar de constrangedora para
alguns, a temática traz dúvidas ou dificuldades mesmo para aqueles que se
sentem maduros para o sexo, adultos e pais de adolescentes, estes últimos
principalmente durante a pandemia.
Nem todos que consultam
material pornográfico são pervertidos ou viciados em potencial. Acessos
eventuais por curiosidade, inspiração, diversão ou até preguiça de procurar
novos parceiros fazem parte da vida. Obviamente, não me refiro aos desvios como
pornografia infantil e parafilias (fantasias ou comportamentos frequentes,
intensos e sexualmente estimulantes que envolvem objetos inanimados, crianças
ou adultos sem consentimento, ou o sofrimento ou a humilhação de si próprio ou
do parceiro). Além disso, não cabe aqui avaliar a qualidade desses materiais ou
ainda a polêmica sobre a indústria pornográfica e seus impactos.
Atentemos apenas aos campos neurobiológico
e comportamental. A consulta à arte pornográfica pode ser utilizada como um
meio para e não um substituto para a vida real. Caso isso ocorra, a prática é
nociva e pode evoluir para um vício. O cérebro dos que consomem muita
pornografia, na maioria homens, funciona da mesma forma que o cérebro dos
viciados em drogas.
Para os interessados nessa
temática, o ponto-chave é a frequência, a necessidade dos acessos e mudanças no
comportamento sexual que afetem seu relacionamento. Esse é o indicador para
saber se o limite da simples curiosidade ou interesse foi ultrapassado.
O vício em pornografia denuncia
quase que o contrário do que se pensa; ocorre uma dificuldade de sustentar a
própria libido com fantasias baseadas na memória, imaginação ou trabalho da
percepção. Trata-se da incapacidade de se olhar para uma roupa que quase
mostra, esconde um pouco, e, a partir daí, navegar numa dimensão criativa, nas
fantasias. Comparo isso a um parque de diversões, que é bom também, mas se ele substituir
a vida real, não se fará contato com os desafios da conquista do objeto de
desejo e de como seria essa interação.
As consequências para os homens,
incluindo os jovens, é a não ereção, falta de capacidade ou desejo de sexo com
quem quer que seja, mulher ou homem reais. Só sentem prazer com masturbação
diante de um material pornô, pois na maioria das vezes é uma situação privada e
totalmente controlável. Quanto mais novo e inexperiente for o homem, pior será ao
enfrentar a situação real, pois houve pouco ou nenhum contato prévio com o sexo
de fato.
Na relação real, há troca de olhares,
sintonias e intensidades diferentes do virtual. Os corpos são reais, o toque, aromas,
vozes, e variam de acordo com o (a) parceiro (a), mas a autocobrança pelo
desempenho ou o corpo igual ao que se vê não acontece, pois é virtual e não real.
Nas mulheres, o impacto é
certeiro na autoestima diante desses episódios de não satisfação; elas não se
sentem desejadas pelo parceiro e receiam estarem sendo traídas ou temem pelo
fim da relação.
O que você está comendo para alimentar sua
fantasia: junk food ou slow food?
Por Liliane Nunes